A manutenção da taxa de juros em 10,5% pelo Copom era uma certeza entre os agentes econômicos. A dúvida era sobre o recado que os diretores do Banco Central (BC) dariam sobre os próximos passos e o ambiente de riscos da economia brasileira.
O Copom optou por intensificar a cautela na comunicação e não colaborar para criar ruídos e estresse a mais no mercado. Mesmo assim, conseguiu endurecer recados sobre a necessidade de ajuste na condução da política fiscal pelo governo.
A alta do dólar, dizem os diretores do BC, é resultado da piora na percepção de risco sobre as contas públicas, sobre a sobrevivência do arcabouço fiscal.
Os juros futuros negociados nas últimas semanas já embutem alta da Selic em 2024 e 2025, na contramão do que ainda apontam as previsões no relatório Focus.
A mudança nos preços dos ativos locais foi outro efeito da incerteza sobre o equilíbrio fiscal que o governo Lula tenta entregar, mas ainda não convenceu.
Os diretores do Copom abusaram da semântica e da ortografia para evitar uma sinalização mais forte sobre a chance de precisarem aumentar a Selic, e não reduzir como tanto quer o presidente Lula.
A porta ficou aberta para o próximo movimento do comitê, que vai depender de algumas reações que os diretores apresentaram como primárias para reversão do quadro atual.
O governo precisa convencer os agentes econômicos de que vai cortar gastos, vai estimar de forma realista as receitas e as despesas do governo federal, vai aguentar o tranco na pressão por mais mudanças na meta fiscal, ou por novas desonerações bancadas pelo Congresso Nacional.
Com a crença abalada, o mercado não para de piorar as previsões para o IPCA de 2025, que é foco da atuação do BC agora. Essa desancoragem das expectativas precisa ser revertida, caso contrário não há espaço para reduções dos juros, ao contrário, a pressão pela alta da Selic só vai aumentar.
Enquanto o BC brasileiro batalha para equilibrar sua comunicação e manter credibilidade diante da mudança do cenário, o Fed, nos Estados Unidos, finalmente admitiu que chegou a hora de começar o ciclo de queda da taxa de juros americana.
Por lá, o mercado já dá como certa a primeira queda em setembro e a torcida para mais reduções até o final do ano é grande.
O descasamento dos momentos da política monetária no Brasil e nos Estados Unidos completa o quadro de incertezas sobre o que o Copom vai conseguir fazer nos próximos meses.
Lembrando que o Banco Central já começou seu período de transição, com final do mandato de Roberto Campos Neto.
A dose de cautela e vigilância que os diretores adotaram para lidar com o juro e a inflação, deve ser aplicada também no processo de troca de comando do BC. Quanto menos ruído novo, menos piora pela frente.
Fonte: CNN Brasil
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