Em meio a denúncias de greenwhasing, avança no Brasil e no mundo a regulação sobre sustentabilidade e contra a prática que consiste em informações falsas, incompletas, ambíguas e, genericamente, enganosas pelas quais algumas empresas parecem se mostrar mais ambientalmente corretas do que são de fato.
Porém, uma pesquisa baseada em informações prestadas por 191 das 193 empresas no Novo Mercado da B3 em Formulários de Referência à CVM observou que 63% publicaram algum tipo de documento a título de Relatório de Sustentabilidade, mas só 29% contaram com auditoria ou certificação externa.
O levantamento foi feito pela agência de classificação de risco de crédito Bells & Bayes Rating Analytics, com consultas em março e abril deste ano e publicada no Anuário “ESG Disclosure Yearbook Brasil 2024”. A agência explicou que teve dificuldades de acesso aos documentos de duas empresas que ficaram de fora da amostra.
“Em um contexto no qual os investidores levam cada vez mais em consideração as informações ESG para tomada de decisão na hora de alocar capital, o estudo sugere que a falta de verificação externa, capaz de inibir a propagação de relatos equivocados e a promoção do greenwashing, tende a despontar como desafio a ser superado internamente”, afirma Wesley Mendes, um dos autores do estudo.
De acordo com a mesma pesquisa, em termos de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1, emissões próprias e sob controle da empresa, e 2, emissões indiretas causada pelo consumo de energia pela empresa. Já as escopo 3, referente a qualquer outra emissão de GEE ligadas à empresa, são monitoradas por 46%.
Os fatores de risco ambientais foram detalhados por 83% das empresas e 77% trataram de aspectos climáticos e 80% das empresas relataram fatores de risco sociais.
Relatório de sustentabilidade é obrigatório?
No último dia 11 de julho, encerrou-se a consulta pública da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a adoção pelas empresas brasileiras de relatórios de informações financeiras de sustentabilidade e sua obrigatoriedade a partir de 2027. Por enquanto, a divulgação é voluntária.
As regras propostas para os relatórios, que devem ser divulgados uma vez por ano nos meses de maio, seguem o padrão internacional emitido pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), formado na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) realizada em 2021, em Glasgow, na Escócia.
Em 20 de outubro, quando a CVM publicou a Resolução 193 sobre o relatório de informações financeiras de sustentabilidade, e iniciou a consulta pública, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou então que o Brasil foi o primeiro país a aderir a essas normas sustentáveis de contabilidade.
O objetivo é ajudar investidores a tomar decisões alinhadas a critérios sustentáveis a partir da divulgação, de forma mais transparente, de oportunidades e riscos relacionados aos negócios de cada empresa.
Especialistas reconhecem que, para investidores e para consumidores é muitas vezes desafiador saber com clareza se uma empresa que faz propaganda de práticas ambientalmente corretas de fato está agindo de forma benéfica ou mesmo não prejudicial ao meio ambiente. Até para uma empresa, que no mínimo contrata outras como fornecedoras, pode ser complicado seguir o que acontece em sua cadeia de suprimentos a respeito do assunto. O caminho para isso é por meio de auditorias externas ou certificações.
O parlamento da União Europeia, por exemplo, tem uma regra para embalagens que visa banir afirmações ambientais enganosas. Com a nova norma, qualificações genéricas nas embalagens como “natural”, “biodegradável”, “eco” passam a ser proibidas se não houver prova de que são verdadeiras como certificação oficial ou estabelecida por autoridades públicas serão aceitas pela União Europeia, anunciou a UE na ocasião.
Pilar S peca em baixa diversidade na diretoria
Quase um quarto das empresas, 24%, diz que considera aspectos ESG na remuneração da alta administração. O perfil do alto escalão, porém, não é diverso. O levantamento da Bells & Bayes com as empresas do Novo Mercado da B3 mostra que no aspecto social do ESG, 82% das companhias analisadas informaram não possuir objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração ou não os mencionaram. Em relação ao Conselho de Administração, o porcentual é ainda mais desigual, já que em 73% delas não há conselheiras, apenas conselheiros.
“A diversidade, entendida como a presença de pessoas tecnicamente habilitadas, com diferentes origens, experiências, habilidades e perspectivas na alta administração, exerce papel fundamental na criação de valor e econômico e no impulsionamento da inovação e do desempenho empresarial”, diz o relatório.
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